Autor: Alexandre Palma
No atual contexto de crise energética em que nos inserimos, surge a necessidade a que haja uma reinvenção no sistema tradicional de energia. Hoje, e seguindo as declarações de Ursula von der Leyn, presidente da comissão europeia – “a crise energética é grave e entrou numa nova fase”, enfrentamos um grave problema de abastecimento energético, não só pelas barreiras de abastecimento energético impostas pela Rússia, a qual era responsável por grande parte do abastecimento do gás na Europa, mas também pelo facto de cada vez mais existir um consumo desenfreado e inconsciente da mesma. O futuro exige a adaptação das novas economias, com as diversas interfaces que a permeiam.
É importante que propiciemos a mudança de paradigma da produção energética arcaica e prejudicial para uma produção 100% “verde”, que não impacte o meio ambiente e em que seja possível ao cidadão comum participar de forma direta nesta produção e consequente distribuição. Esta mudança já está atualmente a acontecer, o consumidor está cada vez mais envolvido neste processo de criação energética, possível devido á quase total adesão a processos de produção energética renováveis. Este envolvimento faz com que as fontes de energia intermitente aumentem, abrindo espaço para a flexibilização da rede. Esta flexibilização energética só poderá ser assegurada através do auxílio das tecnologias digitais, que permita a facilitação da comunicação entre dispositivos, produtores e consumidores de energia elétrica.
A blockchain é uma das tecnologias indicadas, que potencialmente poderá servir de solução para a operação dos mercados de energia. A blockchain permite transações diretas e confiáveis de ativos, sem a necessidade de um intermediário ou instituição central no controlo. A aplicação desta tecnologia nos sistemas elétricos de energia poderá levar à desintermediação dos mesmos, e com isso oferecer alguns benefícios para os próprios consumidores, sendo um deles, á partida, a diminuição dos custos. Atualmente, o sistema do mercado de energia, tal como conhecemos, integra diversos intermediários. A utilização da tecnologia blockchain poderá levar à remoção, mudança ou criação de novos intermediários, de novos relacionamentos e de novas interdependências.
Com a blockchain, é possível que os consumidores entrem na cadeia de produção e distribuição de energia de forma rápida, simples e segura. Já existem iniciativas: em França, a start-up “Sunchain”, especialista na gestão de autoconsumo coletivo, converte energia solar excedente em criptomoeda. A start-up “SolarCoin” também o faz: lançou, em 2014, uma moeda que converte energia solar (1 KWh = 1 “SolarCoin”) com o objetivo de encorajar empresas e cidadãos a instalar painéis solares.
(Fonte: veolia.pt)
Outro exemplo já projetado que conta com a alienação da blockchain com a indústria energética é o exemplo da empresa espanhola Iberdola. “O grupo Iberdrola implementou um projeto-piloto baseado no uso da tecnologia blockchain para garantir em tempo real que a energia fornecida e consumida é 100 % renovável. Graças a esta tecnologia, a empresa conseguiu unir as instalações onde se produz a eletricidade com os pontos de consumo e, assim, rastrear a sua origem, aumentando a transparência e, em última instância, favorecendo o uso da energia renovável.” (Ver mais aqui: www.iberdrola.com/inovacao/blockchain-energia)
As Centrais Elétricas Virtuais ou “VPPs” (em inglês) são também um conceito inovador no âmbito do gerenciamento da energia, em que acontece o entrelace de várias fontes de energia, que por sua vez são gerenciadas por um único sistema de controlo. Estes mecanismos, de forma muito resumida, asseguram a estabilidade da rede e fazem corresponder a oferta e a procura energética a todo o momento. Podem mesmo desencadear meios adicionais de produção, dependendo das necessidades, ou, pelo contrário, cortar a energia seletivamente.
As centrais elétricas virtuais têm várias vantagens em comparação com as centrais elétricas tradicionais.
- Resposta mais rápida para o equilíbrio da oferta / procura
- Alto desempenho mesmo nos casos em que existem problemas na rede loca
- Redução de perdas na linha e queda de tensão
- Uso mais eficiente da capacidade da linha de transmissão
- Disponibilidade em restabelecer linhas com menor tempo de execução e menor investimento
Desta forma é possível concluirmos que o avanço das tecnologias e consequentemente a adoção da tecnologia blockchain será uma peça crucial para o desenvolvimento de novos modelos de negócio em várias indústrias, neste caso considerando a indústria energética, a qual revela uma crescente escassez de disponibilidades e para a qual teremos de encontrar formas alternativas para a solucionar.
Referências: M. A. Zehir and M. Bagriyanik, “Smart energy aggregation network (SEAN): An advanced management system for using distributed energy resources in virtual power plant applications,” 2015 3rd International Istanbul Smart Grid Congress and Fair (ICSG), Istanbul, 2015, pp. 1-4.